O livro “Dylan Elétrico/do Folk ao Rock” de Elijah Wald e o filme “Um Completo Desconhecido” recuperam o momento em que o músico foi vaiado ao deixar o folk de lado e aderir à guitarra elétrica. No Newport Folk Festival, 1965, Bob Dylan sobe ao palco com uma guitarra ao invés do seu inseparável violão acústico. A apresentação se resumiu a três melodias em virtude do embate que se instalou entre ele e o público, relutante em aceitar as novas iniciativas do artista. Para o público do Festival essa inovação era o pior tipo de heresia. O público, mesmo sem saber, exprimiu sentimentos que todos nós carregamos, a ansiedade frente ao desconhecido, a perda de controle, a preocupação com a capacidade de adaptação a nova realidade. Devido à intensidade das manifestações, a última que conseguiu cantar foi Like a Rolling Stone, obra prima apresentada pela primeira vez. Por ironia do destino a letra antológica aborda justamente esta questão.
Um psicanalista diria que as reações seriam manifestações provindas dos medos que guardamos no inconsciente, das inseguranças que não queremos perceber e se revelaram espontaneamente na multidão que protestava. O desconhecimento do futuro, gerando incerteza, e a falta de controle sobre novos procedimentos geram ansiedade e medo. O artista forneceu a centelha para que as pessoas que estavam lá projetassem nele e em sua música os sentimentos incômodos.
Like a Rolling Stone é amplamente considerada divisor de águas na história da música popular, em termos artísticos e culturais. Sua importância está ligada a várias quebras de paradigmas tanto na forma quanto no conteúdo.Causou comoção entre os puristas do folk, mas abriu caminho para uma nova era do rock como forma de arte.
Com mais de seis minutos foi considerada longa demais para os padrões da época quando hits não ultrapassavam 3 minutos. Rádios hesitaram em tocar uma música tão longa. Com o passar do tempo provou-se que o conteúdo artístico poderia ser mais importante que a fórmula de mercado. As estrofes são longas, densas e líricas aproximando-se mais das poesias beat do que da música pop tradicional. A narrativa versa sobre a queda, perda de identidade e alienação , diferente do padrão da época, que privilegiam canções de amor e diferente também das suas músicas de protesto. O icônico refrão “How does it feel?” (Qual a sensação?), funciona quase como um grito acusatório, reforçando a intensidade emocional da letra, algo também incomum em música pop. Like a Rolling Stone foi considerada pela revista especializada Rolling Stone a melhor música de todos os tempos. Ou seja, a melodia era genial em todos os aspectos.
Depois da apresentação de 25 de julho de 1965 no Newport Folk Festival, Dylan continua em turnê agora acompanhando pela The Band, outra banda elétrica, recebendo a mesma agressividade. Foi chamado de Judas na Inglaterra e xingado praticamente em todas apresentações. Sobre esses fatos, o autor do livro Dylan Elétrico faz a seguinte consideração: “na maioria das narrativas sobre os episódios , o astro é lembrado como alguém que representa a juventude e o futuro,e as pessoas que o vaiaram estavam presas no que chama de passado moribundo”. Presas ao medo do novo.
How does it feel? (Qual é a sensação?)
Hang on your own (De estar por conta própria)
With no direction home (Sem direções para casa)
Like a complete unknown (Uma completa desconhecida)
Like a rolling stone… (Como uma andarilha…)
Bob Dylan foi o único compositor agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura.
Respostas de 3
Parabéns Juarezito, por nos fazer lembrar, de uma maneira tão sensível, os questionamentos de Bob Dylan – lembrar o inesquecível e o que não tem resposta.
Obrigado Mário Lúcio, que bom que você gostou.Sua aprovação é muito importante para mim.
Obrigado Mário Lúcio, que bom que você gostou. Sua aprovação é muito importante para mim.