O amigo Zé Bolão

Publicado em: 31/07/2025 às 11:54

Compartilhe

No dia 20 de julho comemora-se o “Dia do Amigo”. Amigos a gente não procura, é o coração que escolhe, é o coração que elege, é preciso muita sintonia para que a escolha aconteça, quase por acaso. Quando assustamos, a amizade está instalada no coração.

​​​Tenho várias amizades, algumas de peso e de muito valor, outras nem tanto, leves e superficiais, iguais a muitas, mas inferiores a várias.

​​​Entre minhas amizades de peso, elegi um muito especial que representará todos os outros, cujos nomes não citarei para não trair a consciência. Trata-se do JOSÉ DO ESPÍRITO SANTO, amigo bem mineiro e conterrâneo, amigo de longa data, amigo leal e verdadeiro, amigo de todos: o Zé Bolão.

​​​Tivemos uma convivência estreita e diária quando trabalhamos juntos como Escreventes no Cartório do Registro de Imóveis de Peçanha, cujo titular era o meu Pai, Jeremias de Mendonça Freitas.  Aí conheci a índole deste amigo: leal, companheiro, comprometido, confidente. Nós também éramos goleiros do Malalis, eu sempre na sombra dele, titular absoluto.  Todas as manhãs, às 6:00 horas, eu o apanhava na casa do Waldemar para o treino no campo da Mãe D’Água, e quase ninguém sabia disso, a não ser os companheiros que chutavam para nossas defesas.

​​​Era meu confidente: certo dia revelei a ele que ia ficar noivo. Ele deu a maior força e injetou coragem.  E estava certo, o casamento com a Amanda durou 33 anos, nos deu 3 filhos e 4 netos, e só nos separamos porque foi necessário nos separarmos. Interessante uma separação conjugal acontecer por necessidade, e foi o nosso caso. O Alzheimer levou nosso casamento, levou a Amanda e atingiu também a mim e aos filhos por consequência.

​​​Ao contrário do que muitos pensam, o Alzheimer não é como a história do menino bobo que vai andando distraído e, de repente, dá uma topada numa pedra. Sou convicto que é mal de nascença, vai se manifestando de mansinho, de pouquinho, quase que de forma imperceptível, mas de repente explode e transforma a pessoa, vira-a pelo avesso, muda seu comportamento transformando-a por completo.  De pacata e dócil, tudo muda para agressividade. E tudo aumentando dia a dia, a princípio de mansinho, mas depois já de forma quase impossível de suportar, principalmente à falta do diagnóstico conclusivo. Nessa fase um médico amigo me disse: um de vocês tem de viver mais e se continuarem juntos você prejudicará sua família. E aconteceu a separação física, mas a espiritual continuou e até hoje a saudade machuca, a saudade dói.

​​​Mas voltemos ao Zé Bolão. Ele também me revelou o noivado e o casamento em primeira mão, fruto da enorme confiança. Revelou seus planos, suas aspirações, seus desejos, seu imenso amor pela amada.  Ficamos afastados durante algum tempo em face de minhas andanças em razão da vida de Magistrado, mas hoje nos encontramos regularmente às sextas-feiras para a tradicional “feijoada” no “Restaurante Du Bolão”, que fica na cidade de Contagem. Ali rola, além da feijoada, uma cachaça do Toxiba (a melhor do Brasil) e uma boa prosa com a Marilac do Pedro César e o Ausier, outro companheiro do futebol e hoje o melhor do Brasil com o cavaquinho. E lá ainda encontro os ovos caipiras e a galinha caipira congelada da melhor qualidade.

​​​Mas o melhor mesmo é encontrar o amigo, rever o amigo, relembrar os tempos de trabalho e de futebol, e chegar à conclusão de que “a vida é cheia de encantos, derrotas e vitórias, erros e acertos, enganos e descobertas, e que cabe a cada um pegar para si o conhecimento adquirido e fazer de todas as oportunidades um grande aprendizado”.

​​​O Zé Bolão faz tudo isso com maestria.

Mauro Soares de Freitas

Mauro Soares de Freitas – nasceu em Peçanha (MG). Formado em Direito pela UFMG, foi Juiz de Direito em várias cidades mineiras e Desembargador do Tribunal de Justiça de MG. Aposentado, atualmente integra a Soares de Freitas Advocacia e Negócios.

Compartilhe

Uma resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *