Sexta-feira fria de junho, cinco da tarde. Nesse horário José Eli da Silva, mais conhecido como Toxiba, abriu a porta de sua casa para uma conversa com a equipe do Echo da Matta. O que parecia uma simples entrevista se transformou num mergulho bonito de trajetória de coragem, trabalho e sucesso.
Nascido em Peçanha, cresceu na zona rural no chamado Suaçuí Pequeno, ao lado dos pais e irmãos. Incentivado pelo pai, enfrentava diariamente 13 km a pé para estudar na cidade. Mais tarde, mesmo após concluir o ensino médio, continuou firme em seu propósito: ingressou no curso noturno de Contabilidade, cujas aulas terminavam às 22h. Chegava em casa já de madrugada e nem pensava em desistir.
Diploma nas mãos, trabalhou no IBGE em Ribeirão Preto e morou na Austrália durante tempo. Ao retornar ao Brasil, voltou também às suas raízes, iniciando ali um novo capítulo: a fabricação de queijo artesanal. Desde o início, entendeu que empreender era mais que produzir — ofício de dedicação e muito trabalho. Percebeu também que para alcançar um queijo de excelência, precisava de estudo, paciência e cuidado. “A pressa nunca me fez companhia”, resume ele. E foi assim que seu queijo se tornou um dos mais apreciados da região, conquistando Peçanha, cidades vizinhas, Sete Lagoas e até Belo Horizonte. Mas, por várias razões, no final de 1994 encerrou a produção de queijos e ficou diante de um dilema: o que fazer com a plantação de cana-de-açúcar, que até então alimentava as vacas? A resposta não veio fácil. Após algumas tentativas frustradas de repassar a cana para vizinhos, tomou uma decisão que mudaria para sempre o rumo da sua história.

Viajou até Governador Valadares e adquiriu seu primeiro alambique. Assim nasceu a primeira cachaça com a marca Toxiba, apelido de infância. E como tudo o que faz, não se contentou com o improviso. Buscou capacitação com o renomado cachacista Amando César Del Branco porque, para ele, sucesso só vem com conhecimento, parceria e muito foco. A boa aceitação do produto fez com que se associasse à Cooperativa de Cachaça de Guanhães e, logo depois, fosse convidado pelo Ministério da Agricultura e pela Emater a participar de um concurso nacional. Com humildade, conta que aceitou apenas porque os técnicos da Emater sempre ofereciam retornos valiosos, com sugestões de melhoria. Para sua surpresa, a Cachaça Camulaia — nome que homenageia a força e a memória dos povos escravizados — conquistou o Selo Prata, alcançando o segundo lugar nacional.
Mas no caminho de todo empreendedor há pedras e uma delas apareceu em forma de denúncia. A multinacional japonesa Toshiba denunciou o uso do nome, e mesmo com a defesa baseada na grafia diferente (Toxiba), foi necessário mudar a marca. Nasceu então a Cachaça Peçanha, nome escolhido com zelo e respaldo jurídico, após estudo cuidadoso do prefeito Antonio Rangel e do saudoso advogado Jurandir Vieira da Silva.
Com o novo nome manteve sua trajetória de sucesso. Em 2024, vieram as medalhas Prata da Emater, com as Cachaças Peçanha Premium e Peçanha Ouro e a produção atingiu patamares surpreendentes: 750 litros por dia, somando cerca de 140 mil litros por ano. Mais do que números a empresa preserva o propósito: manter a excelência, respeitar o tempo da natureza e valorizar o aprendizado contínuo, tanto dele quanto da equipe.
Ele compara o cachacier ao chef de cozinha: “É preciso preparar a terra, plantar, esperar o tempo certo, colher com cuidado e transformar com amor. A vida sempre seleciona os bons, mas para permanecer no topo, é preciso nunca se esquecer da base.”
Seu nome e sua marca chegaram longe. Em Cárceres, no Mato Grosso, o casamento da filha de um conhecido produtor de soja teve a Cachaça Prêmio Ouro como destaque, servida com orgulho.

Mas é ao falar da família que Toxiba se emociona. A esposa Idelse, professora aposentada e verdadeira embaixadora da marca, é seu apoio constante. O filho Igor, advogado, já sinaliza que seguirá seus passos. A filha Najara é uma psicóloga respeitada na cidade. “É por eles que tudo faz sentido”, diz. Caseiro, simples e atento aos detalhes da vida, cultiva um ritual diário: ao final de cada dia, um cálice de cachaça — branca ou envelhecida — acompanhado de um bom tira-gosto. A música também o acompanha: Raul Seixas, Zé Ramalho e Roberto Carlos são os cantores preferidos e ele garante que sabe todas as letras das músicas. Neste assunto de música ficamos pensando que talvez a melodia que lhe traduz bem é Tocando em Frente: “Cada um de nós compõe a sua história/Cada ser em si carrega o dom de ser capaz/De ser feliz.” Mesmo com uma rotina de muito trabalho, sempre acha um tempo para viagens com a família para praia ou cidades históricas.
A noite chegando devagar, o coração grato pela conversa tão rica e afetuosa, nos despedimos de Toxiba e da Idelse, certos de que Peçanha se orgulha da Cachaça Peçanha e de José Eli da Silva, o Toxiba.
O Echo da Matta também.
Respostas de 7
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CACHAÇA PEÇANHA
Hudson Moreira
Pensa nun trem bão… puramente artesanal pra tomá todo dia e inté no natal.
Tem produção de mais de 14 mil garrafas anual. Tem prata e ouro. Ouro tem reserva especial!
Nunca faz mal! É só tomá devagazim e no seu cantim, que faz é muito bem. Deixa quem bebe… sempre feliz e muito alegre!
Vô te contá, mais vô falá baixim. O fundador a quem devo louvor… é o sr. Eli Toxiba que – com muito amor – desde 1994 fabrica esta priciosidade com todo rigor.
Ele passô uns ano na Austrália e quando vortô arresolveu na fazenda Santo Antônio um alambique montá. Adquiriu alambiques de cobre pra da cana produzí o que há de mais nobre.
A marvada é pra degustá. Muito boa como aperitivo pra armoçá ou jantá… ou mermo pra cumê um tira gosto após uma pinga tomá.
Tô falano é da Cachaça Peçanha artesanal… essa bilezura sem igual! É armazenada por um ano e meio em inox ou carvalho, purisso é especial.
A Cachaça Peçanha Prata passa esse tempim em reservatório de inox. Já a Cachaça Peçanha Ouro em tonel de carvalho… por isso é um tisouro.
Mais se demorá mais um mucadinho e dobrá esse tempim nesse mermo tonel, será apelidada de reserva especial por ficá boa ingual mel.
Nesse caso… terá tratamento VIP e frequentará os mais belos eventos! Momentos comemorativos como aniversários, e casamentos!
𝑷𝒓𝒐𝒇. 𝑯𝒖𝒅𝒔𝒐𝒏 𝑺𝒐𝒂𝒓𝒆𝒔 𝑴𝒐𝒓𝒆𝒊𝒓𝒂 🇧🇷
Parabéns pela iniciativa. Achei GENIAL!
Muito bom mesmo!!!
Retratou com precisão cirúrgica a personalidade do Eli Toxiba. Um idealista, competente, vibra com essa cachaça, uma verdadeira
obra de arte que criou. Um ser humano carinhoso com sua familia e os amigos. Ainda vamos testemunhar a premiação, em nivel internacional, da cachaça Peçanha.
Quero deixar aqui meu sincero agradecimento à equipe do Echo da Matta pela visita tão atenciosa e pela entrevista.
Foi uma honra poder contar um pouco da minha trajetória, relembrar momentos marcantes da minha vida e compartilhar com vocês e com o povo de Peçanha a história por trás da Cachaça Peçanha — que é, antes de tudo, uma história de família, de fé no trabalho e de muito aprendizado.
Fiquei muito feliz com a forma como a conversa foi conduzida e com o resultado final da matéria. Vocês conseguiram traduzir com verdade aquilo que levo comigo: o valor do esforço, do tempo bem vivido e do respeito pelas origens.
Agradeço de coração pelas palavras tão bonitas e por registrarem, com tanto carinho, um pedaço da minha história.
Um grande abraço,
Eli Toxiba
Parabéns ao Toxiba, que quero ter o prazer de conhecer .
Conta -se que a cachaça Pinissilina também teria sofrido ação penal em razão do nome comercial, movida pelo fabricante do antibiótico penissilina. Teria se safado pela grafia diferente, de ‘e’ por ‘i’. A história é contada no livro 70eUns Revoadas.
Parabéns ao Toxiba e Idelse !